NÃO FALTEM SUA PRESENÇA E IMPORTANTE
CONGRESSO INFANTIL
CONGRESSO INFANTIL
A CHEGADA AO BRASIL Daniel Berg e Gunnar Vingren chegaram em terras brasileiras no dia 19 de novembro de 1910. Tudo era estranhíssimo para os dois suecos. As pessoas malvestidas, os leprosos a desfilar seus corpos mutilados, apresentando pungente espetáculo pelas ruas. Mas o Senhor de fato os enviara, e aqui estava para guardá-los do contágio e, logo, das agressões, ofensas e ameaças. Alguns dos alegres passageiros que com eles chegaram ao porto de Belém nunca imaginaram que viriam a ser infectados, o logo depois teriam seus nomes no rol dos mortos. No modesto hotel (onde por um dia se hospedaram) consumiram os seus pobres 16 mil réis. Com os níqueis restantes, iriam de bonde, no dia seguinte, em busca da residência do pastor metodista Justo Nelson, diretor do jornal que, "casualmente", chegara às mãos de Vingren no quarto onde se haviam hospedado. Para surpresa deles, tratava-se de um conhecido de Vingren, nos Estados Unidos. Separados para as missões por uma igreja batista, nada mais natural do que encaminhá-los aos irmãos da mesma fé, o que se fez. No dia seguinte, foram muito bem recebidos pelo missionário Erik Nelson. Este, como eles de nacionalidade sueca, convidou-os a cooperarem no trabalho. E ofereceu-lhes o porão da igreja, onde se alojaram. |
FAZENDO DISCÍPULOS Ninguém poderia, nem de longe, imaginar que na humildade do sombrio e sufocante porão da igreja Batista da Rua João Balby, 406, nasceria a maior comunidade pentecostal da história. Coisas surpreendentes começaram a acontecer; é verdade, mas nada indicava que os dois missionários pudessem vir a ser os detonadores de uma revolução espiritual de tamanhas proporções. As obras que o Espírito realizava já eram algo bem acima de tudo quanto se poderia esperar. Apesar do exíguo espaço ocupado pelos missionários, muitos irmãos os visitavam. E eram ensinados sobre os dons espirituais, e estimulados a buscar o batismo no Espírito Santo. Os sinais iam seguindo os que criam. O Senhor curou uma paralítica, que imediatamente deixou as muletas. (Ela as prendeu na parede de sua sala para que, mudas, mas eloqüentes, a todos falassem do milagre.) Várias outras provas da operação divina foram testemunhadas pelos crentes. Mas o mais impressionante aconteceu com a irmã Celina Albuquerque: Jesus a libertou totalmente do câncer que se enraizava em seu rosto! Naquela mesma semana, ela estava a orar de madrugada, quando foi batizada no Espírito Santo. Era a primeira pessoa a receber a promessa pentecostal no Brasil. No dia seguinte, sua irmã Nazaré teve a mesma experiência. A princípio, não havia qualquer divergência em torno de Berg e Vingren. Eles eram reconhecidos por todos como inquestionável resposta as suas súplicas. Os crentes mais fervorosos vinham se reunindo no templo para orar no sentido de que Jesus lhes mandasse um obreiro. Seu pastor fazia longas viagens, a evangelizar no Norte e Nordeste, e havia necessidade de ajudadores. Os suecos eram uma bênção também para as outras três igrejas evangélicas existentes na cidade: todos queriam vê-los e ouvi-los. Todos os amavam, e consideravam um milagre o fato de não adoecerem naquelas condições de insalubridade, sem falar do calor de Belém. O Pr. Nelson Erick via crescer o número de visitantes: agora tornava-se bem mais promissora a obra que anelava realizar. A Primeira Igreja Batista, por ele fundada em 1897, com tantos anos de existência, até então não tinha sequer duas dezenas de membros! Daniel e Gunnar sabiam também que o Pr. Nelson, logo que chegara ao Brasil, dispôs-se a rogar a Jesus que o batizasse no Espírito Santo. Decorridos catorze dias de súplicas, o Senhor começou a derramar copioso poder sobre ele. Sua esposa, porém, temerosa, rogou-lhe que parasse com "aquilo", não lhe permitindo que recebesse a promessa. Desde então Nelson fez-se declarado inimigo da doutrina pentecostal. |
A LINGUAGEM DO AMOR Daniel conta: “Chegou ao conhecimento do pastor batista a notícia do progresso do nosso trabalho, e que o folheto por ele escrito contra nós contribuiu para maior desenvolvimento da obra. Isso serviu para que ele rompesse definitivamente relações conosco, criando-se um abismo entre ele e nós. De nossa parte, estávamos penalizados com a situação que ele criou, pois sua vida transformou-se inteiramente. Já não era o homem alegre de outrora; andava sozinho. As únicas ocasiões em que falava, era quando pregava, assim mesmo a pregação era uma contínua agressão, contra nós e contra a Obra que se iniciara. A assistência à sua igreja diminuía dia a dia; chegou a ponto de não poderem sustentá-la, tão poucos eram os membros. "Os membros ativos, cujos corações ardiam de zelo pelas almas e que eram sustentáculos espirituais da igreja, sentiam-se mal com a atitude agressiva do pastor; por isso vinham à Assembléia, e ficavam. "Certo dia, os membros expulsos da igreja batista (...), vendo que seu antigo pastor passava privações e tinha as roupas gastas, tomaram a decisão de ajuda-lo e sustentá-lo, apesar de tudo quanto tinha feito contra eles. Esse gesto altruístico falava a linguagem do amor divino e demonstrava o amor cristão de que os irmãos estavam possuidos. O pastor recebeu com alegria o auxilio..." |
O PREÇO DA REJEIÇÃO Nenhum deles se alegrou em ver os sofrimentos do pastor, ao saber dos seriíssimos problemas que lhe sobrevieram e à igreja, desde quando a renovação espiritual foi rejeitada, e os que anelavam recebê-la sofreram a humilhação e a dor do expurgo. Uma sucessão de gravíssimas situações abateu-se sobre a igreja, que, nas palavras de um certo historiador batista, "foi destroçada". E levou algum tempo para começar a recompor-se. Depois disso, com crises sobre crises, o novo pastor - Luís Reis - logrou conduzir o diminuto rebanho por algum tempo, até que os problemas culminaram com sua própria exclusão. Seu sucessor, o dr. Dawning, um norte-americano, conceituado médico, assumiu o pastorado em 1917. Começou bem, mas logo depois precisou viajar com urgência para o seu país, em busca da cura de grave enfermidade em sua esposa. |
O ROMPIMENTO Sem o apoio com que contava, o pastor ouviu, de um diácono, palavras ponderadas, mas firmes e decididas: "Compreendo muito bem os seus sentimentos, pastor; o senhor declara que está entre um grupo de traidores, que se distanciaram dos ensinos que lhes ministrou. Acha que não estamos seguindo o caminho que nos ensinou. Entretanto, isso não é verdade. Nunca estivemos mais certos do que agora, jamais tivemos tanta fé como atualmente. O que aconteceu foi que agora achamos alguma coisa mais, a fé e o poder do Espírito Santo. "Não temos queixa, pastor, de não nos haver falado destas coisas, pois o senhor desconhecia estas verdades, de modo que não as conhecendo, não as poderia ensinar a outros. Nós desejaríamos que o senhor também recebesse estas bênçãos de Deus, a fim de nos entendermos melhor e podermos sentir a mesma comunhão com os irmãos que vieram de outras terras." Em seguida, "o pastor", conta Daniel, "olhou mais uma vez em redor e esperou que alguém se manifestasse a seu favor; mas foi em vão. A seguir, dirigiu-se a mim e ao irmão Vingren e disse: 'Já tomei a decisão. A partir deste momento não podem ficar morando aqui (...), não os queremos mais aqui.' "Erick dirigiu a palavra aos outros, e quis saber: 'Quantos estão de acordo com essas falsas doutrinas?"' Sem vacilar, dezenove mãos se levantaram. A primeira preocupação de Vingren foi com a moradia onde pudessem receber os irmãos. Daniel o tranqüilizou. Embora não tivesse ouvido o diálogo, o diácono que se havia pronunciado em nome do grupo aproximou-se e ofereceu-lhes a sua ampla sala para as reuniões e convidou-os a morar em sua casa. O coração generoso tinha razões sobejas para amar os dois missionários: a curada de câncer e logo batizada no Espírito Santo era sua esposa. |
A NOVA COMUNIDADE Excluídos pela minoria inimiga do avivamento, os crentes, sob a liderança de Vingren e Berg, estavam atônitos. Não era seu propósito fundar nova igreja. Em se tratando, porém, de fato consumado, era imperioso sobre o destino a tomar. Os excluídos por iniciativa de Raimundo Nobre (primo de Adriano Nobre, o amigo dos missionários - futuro pastor da Assembléia de Deus), no dia 18 de junho já se organizavam em sua própria comunidade, na residência de Henrique Albuquerque, Rua Siqueira Mendes, 79, no bairro Cidade Velha. A história nada registra sobre a escolha do nome, e sobre quem o propôs. Informa, tão-somente, que foi escolhido o de Missão da Fé Apostólica. Punhadinho de crentes, dezenove, que lançou a semente da Assembléia de Deus então constituído das seguintes pessoas: José Plácido da Costa, Piedade da Costa, Prazeres Costa, Henrique Albuquerque, Celina Albuquerque, Maria de Nazaré, Manoel Maria Rodrigues, Jesusa Dias Rodrigues, José Batista de Carvalho, Maria José de Carvalho, Antônio Mendes Garcia, Manoel Dias Rodrigues, Emilia Rodrigues, Joaquim Silva, Benvinda Silva, Ana Silva, Teresa Silva, Isabel Silva e João Domingues. Gunnar Vingren foi aclamado pastor da novel igreja e Daniel Berg seu auxiliai; com a responsabilidade pela colportagem, mister que tanto o apaixonava. NASCE A ASSEMBLÉIA DE DEUS Quanto à denominação Assembléia de Deus, o pioneiro Manoel Rodrigues lembrava, em fins dos anos setentas, sobre a primeira vez que se ventilou o assunto. Um grupo de irmãos saía da congregação Vila Coroa e se encontrava na parada do bonde de Bernal do Couto. Vingren indagou a respeito da questão e informou que nos Estados Unidos haviam adotado o nome Assembléia de Deus ou Igreja Pentecostal (*) (**) (***). Houve unanimidade em torno do primeiro nome mencionado. Em 11 de janeiro de 1918, o título Assembléia de Deus foi oficialmente registrado. Não se tratava, portanto, de igreja filiada a alguma missão estrangeira; ela nascia genuinamente nacional, característica que sempre primou em manter. |
OS ÚLTIMOS DIAS DOS NOSSOS MISSIONÁRIOS
|
GUNNAR VINGREN Regressou à Suécia aos 53 anos, a 15 de agosto de 1932, quando em plena atividade pastoral, no Rio de Janeiro. Em 2 de junho de 1933, às duas horas e 45 minutos da tarde, partia para as moradas eternas. Seu filho Ivar recorda: "Dois dias antes, ele fora arrebatado. Esteve no céu e viu coisas maravilhosas. Quando voltou, cantou em línguas hinos espirituais, e em seguida disse para minha mãe: ‘Agora eu sei que Jesus vai me levar, agora sei que vou embora para o céu. ‘Dois dias depois ele nos chamou a todos, e se despediu de cada um de nós, nos deu uma palavra, um conselho para cada um especificamente." Frida, a esposa, assim testemunha sobre a morte de Gunnar Vingren: "...com os braços levantados, exclamou: 'Jesus tu és maravilhoso. Aleluia! Aleluia!"' | DANIEL BERG Já era quase octogenário quando retornou à pátria pela qual pulsava tão fortemente o seu coração (não era mais, porém, que o seu amor a Cristo e à Obra do Senhor). No hospital, o enfermo ancião cujas mãos, em nome de Cristo, curaram talvez milhares e abençoaram milhões, combalido, mas perseverante, percorria as enfermarias, não obstante as interdições médicas, a distribuir folhetos com a doce mensagem da cruz. Nunca deixou de exercer a sua missão de embaixador de Cristo. Quando a morte chegou (em 1963), feliz ele sorria, como a dizer: "Onde estão, ó morte, os teus aguilhões?" E em Cristo se abrigou para todo o sempre. Só os céus podem avaliar o quanto os dois pioneiros fizeram pela saúde espiritual do Brasil, onde o povo, maciçamente, com pouquíssimas exceções, pendia para a crendice e os ídolos. |